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Existem assuntos que não aparecem na agenda das reuniões. Eles não constam no planejamento estratégico, não viram OKRs. Mas estão lá, presentes — ainda que silenciosos, constroem (ou corroem) as dinâmicas que movem – ou paralisam uma organização.

As emoções, por exemplo.

Elas não batem ponto, não preenchem relatórios e raramente são nomeadas nas apresentações. Mas seguem operando nos bastidores de quase tudo: na motivação das entregas, na forma como colaboramos, na maneira como lideramos e também… no que escolhemos silenciar.

 

Quando o invisível começa a pesar

O mal-estar emocional nas organizações não surge de uma única causa. Ele vai se formando nas relações do cotidiano: quando alguém se sente ignorado, quando um conflito é evitado, quando a injustiça é percebida, mas não dita. Ele se manifesta em olhares desviados, reuniões mornas, decisões que parecem arbitrárias e sorrisos que já não carregam presença.

E o mais curioso — e preocupante — é que esse mal-estar não é causado por “alguém” ou “a cultura da empresa”, como se fosse um ser autônomo. Ele é tecido a muitas mãos. Um reflexo conjunto, como um espelho embaçado entre sistemas e pessoas, líderes e equipes, indivíduos e estruturas.

É corresponsável. É coletivo.

 

Como esse mal-estar se expressa?

  1. Engajamento em queda lenta e contínua – Profissionais com potencial vibrante operando no modo econômico, como se estivessem economizando a própria energia para se proteger.
  2. Colaboração por obrigação – O trabalho em equipe vira uma peça ensaiada, seguir o script. Bonito no papel, mas sem a espontaneidade que faz a conexão acontecer de verdade.
  3. Profissionalismo como disfarce de desconfiança – Um tipo de “frieza funcional” que mantém o tom cordial, mas bloqueia a autenticidade. Desligamentos silenciosos – Nem sempre se faz um pedido de demissão para deixar a empresa. Às vezes, a pessoa vai embora por dentro, mesmo que o crachá siga no peito.

 

Mas afinal, o que sustenta esse mal-estar?

Emoções não resolvidas criam raízes no invisível. Aquelas frustrações que não encontram espaço para serem ditas viram mágoas difusas, ressentimentos reciclados, narrativas silenciosas que atravessam reuniões, decisões e relações.

E quando isso se repete sem espaço de elaboração, se instala na cultura. Cultura essa que, vale dizer, não é o que está escrito no onboarding ou estampado no mural. Cultura é o que acontece quando ninguém está olhando. É o que se repete — inclusive os silêncios.

Nesse ponto, é preciso lembrar: toda organização é feita de gente. E onde há gente, há emoção. Fingir que isso não existe é abrir mão de compreender a verdadeira engrenagem que move (ou trava) os resultados.

 

O que fazer então? Como lidar e transformar com essas emoções no contexto corporativo?

  1. Criar espaços reais de escuta – Não basta abrir um formulário. É preciso abrir espaço. Escuta genuína é aquela que acolhe a fala sem precisar concordar com ela — e que trata a emoção como dado relevante para decisão.
  2. Formar lideranças emocionalmente disponíveis – Liderar também é ter coragem de lidar com o que é humano. A maturidade emocional não se ensina com PowerPoint, mas com vivência, repertório e presença.
  3. Revisar critérios de reconhecimento e justiça – Nada desgasta mais do que se esforçar e perceber que mérito e decisão não caminham juntos. Justiças mal explicadas viram narrativas difíceis de apagar.
  4. Cuidar da cultura como se cuida de um jardim – É um organismo vivo. Exige atenção constante, poda de excessos, nutrição de boas práticas, e coragem para remover o que adoece — mesmo que pareça pequeno.

 

Colocar gente na agenda

O maior inimigo não é o conflito. É o silêncio que o envolve. Aquilo que não é dito, mas que continua presente, dia após dia, moldando a cultura no subterrâneo das relações.

Se importar com esse tema não é um ato emocional demais. É um ato de responsabilidade.

Executivos, líderes, times: estamos todos implicados. E reconhecer isso já é um passo — talvez o mais importante — para transformar as dores veladas em potência coletiva.

Porque no fim, cuidar da saúde emocional da organização é, também, cuidar da sua capacidade de evoluir.

 

Gostou? Compartilhe sua experiência ou visão nos comentários. Como você tem visto a gestão das emoções na sua organização?

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